quarta-feira, 31 de julho de 2013

FILME DE MIM MESMO



“O amor que eu sentia emanar de Maharaji (Guru- mestre) quando eu estava com ele na Índia era tão extraordinário e fora do comum porque nunca parava de fluir. Não chegava até mim se eu fosse bom, e não parava de vir até mim se eu fosse mal... Ele sabia tudo. Não havia como eu merecer esse amor. Claro que essa é a natureza da graça do guru: ninguém a merece. É por isso que chama graça. Ela chega até nós quando menos esperamos- quando estamos no fim da linha e não vemos mais como seguir em frente, dobramos uma esquina e lá está ela. Nós tropeçamos e caímos bem no meio dela. A graça nos rodeia o tempo todo, mas nós a sentimos em raros momentos. É um verdadeiro estado do universo. Como Susuki Rochi disse: “Venha caminhar comigo na chuva, mas não se apresse, está chovendo em todo lugar.” O que nos mantém afastados da chuva suave da graça divina? É nossa obsessão infinita, o dia inteiro de eu, mim, meu. Nós acordamos de manhã e começamos a escrever o roteiro do ”filme de mim mesmo”: o que eu vou fazer? Aonde eu vou? Como vou chegar lá? Será que isso basta? Será que é demais? O que vai acontecer? O que vou vestir? Como estou? Será que ele gosta de mim? Porque não? O dia inteiro. Um filme de mim mesmo. Nós o roteirizamos, dirigimos, produzimos e estrelamos. Nós escrevemos resenhas, lemos e ficamos deprimidos! Daí vamos dormir e começamos tudo de novo no dia seguinte. Já vi isso tantas vezes... E, ainda assim, toda vez que ligo a tv, lá está: eu, minha esposa e minhas questões. De maneira gradual (palavra chave), porém inevitável (a outra palavra chave) práticas espirituais como cantar mantras removem essa versão subjetiva da vida ao dissolver lentamente os apegos que nos fazem sentir como se fossemos separados das pessoas ao redor, e separados e isolados da beleza que vive no coração. Tudo o que fazemos na vida está conectado com todo mundo e com o Tudo mas como nós estamos trancados no nosso mundinho próprio, quando estendemos a mão para tocar outra pessoa, a única coisa em que encostamos é na nossa versão da outra pessoa, e ela só toca na versão que tem de nós. Na verdade, nós raramente nos tocamos... Todos nós vivemos em um universo próprio, em certa extensão. Nós precisamos nos tornar conscientes da maneira como esses programas funcionam, de como eles tingem nossa vida e nos isolam das outras pessoas, fazendo com que as enxerguemos de longe, de trás das nossas barricadas pessoais. Todo mundo traz seu passado e carrega seu futuro consigo, em todos os momentos. Nós carregamos a noção de sermos a coisa mais importante do universo e de que o mundo existe em relação a nós. Eu olho pra você e vejo a maneira como você se veste e o seu cabelo, e isso traz uma série de noções inconscientes a respeito de você. Não é quem você é, é apenas a minha versão de você. É isso que os seres humanos fazem. Buda disse que a comparação é o último tipo de pensamento a ir embora. Nós estamos sempre comparando: Ela é mais elevada do que eu. Ele é isso. Ela é aquilo. “O dia inteiro, nós nos vemos através dos olhos das outras pessoas.”



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Pesquisa realizada pela
equipe Yoga Hall

Fonte: Livro Cantar para viver Krishna Das - pág. 167

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