- Pai, ó! Daqui de cima dá pra ver quase toda a Estação...
- É, filhinha. O Edifício Ouvidor Freire não é nenhum arranha-céu, mas daqui do segundo andar temos uma visão privilegiada.
- Olha, pai... Aquela igrejinha!
- É a Matriz de São Sebastião. Foi ali, filha, que eu encontrei grande parte dos amigos de adolescência, amigos que conservo pela vida inteira...
- O Tio Léo, pa-ai!
- Ele é de antes, mas estava lá também. E foi nessa época que travamos amizade com muita gente...
- Quem, pa-ai?
- Muita gente. Por exemplo, a Dona Luzia, mãe daquela meninada bonita. Tinha o Otair, a Emanilda, o Marcão, o Paulo-cara-de-cachorro, o Marcão, o Frank, a Abadia, o Tchaca, a Ana, a Gorete, o Adeilton, a Helenice... um tantão!
- Muita gente, hein pa-ai!
- Muito mais. Era uma turma tão grande que a lista completa nem cabe nessa conversa.
- Pai, ó! Do outro lado... Dá pra ver aquele prédio alto...
- É o Franca do Imperador. Foi o primeiro arranha-céu construído em Franca. Foi projetado pelo Ary Balieiro. Um pioneiro das grandes edificações em Franca...
- Olha, pa-aaaaai! Aquelas três letras... A... E... C... Queísso?
- O que é, não! O que foi!
- Fo-oi, pai-ê?
- Ainda bem que esqueceram de tirar aquele letreiro, que já foi um luminoso. AEC era um clube recreativo, tinha um salão de eventos que marcaram a história... Grandes orquestras e conjuntos de baile!
- Foi lá que você conheceu a mamãe?
- Não! Isso foi depois. Lá eu conheci... hum... Bem, deixa pra lá, filha. Lá eu conheci a melhor canja de Franca...
- Ca-anja?
- De galinha, preparada pelo Orlando Dompieri. As pessoas dançavam no salão, na parte de cima e depois desciam pra tomar canja no térreo.
- Senhor! Você dançava?
- Bem, filha. Eu nunca fui bom de dança... Eu tentava, mas levava umas tábuas...
- Tábuas?
- É... As moças sempre me dispensavam porque eu pisava no pé delas... Por outro lado, a AEC oferecia um verdadeiro “caldo de cultura”, porque foi palco de grandes shows musicais, carnavais, festivais e até peças de teatro.
- Mas, pa-ai! Caldo não é sopa?
- É quase isso, mas é diferente. Pode ser uma boa programação cultural ou um banho forçado.
- Pa-ai. Eu levei um caldo...
- É, filha? Quem te jogou água? Foi na piscina do Castelinho?
- Nã-ão, pai, ó! Eu fui com a mamãe-mamá no City Posto, ela comprou caldo e eu levei pra nossa casa...
CityCrônicas
Beto Chagas é escritor e psicólogo,
autor do livro de crônicas Palavras Contidas
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