Desde que iniciei meus estudos em Terapia Familiar, mais especificamente em perdas e luto, a cada dia me surpreendo com o ser humano na sua capacidade de enfrentamento, de superação e de amor.
Quão difícil é ouvir uma mãe dilacerada pela perda do filho, com o coração banhado em sangue, uma mãe que vê os sonhos de continuidade interrompidos abruptamente. No entanto, essa mãe generosamente, num momento tão doído, doa os órgãos desse filho pensando no próximo que poderá se beneficiar da visão que seu filho não poderá ter.
A mãe muitas vezes tira forças de onde não existe, para atender ao marido, ou ao outro filho que aparentemente está pior que ela.
A mãe que tem a coragem e a bravura de deixar um vício ou mudar a direção de sua vida, de forma positiva, mesmo após ter perdido uma de suas “joias raras”. E que ainda me diz ter aprendido a amar muito mais com essa perda, valorizando e exteriorizando o amor pelos outros filhos que ficaram.
A mãe que, apesar de seu sofrimento, consegue correr ao encontro de outras mães na mesma situação e levar consolo em momentos em que acha que quem mais precisava era ela e, ainda assim, sente-se realizada em ajudar o próximo.
Será possível tirar forças da dor?
Acredito que não. Na convivência com tantas histórias de vida, aprendi que somente é possível resgatar forças do amor. Amor pelos que ficaram. Amor pelos que estão por vir. Amor pelos que se foram. Amor por si mesmo. Sem o amor, nada teria sentido, nada valeria a pena, nada teria como ser enfrentado.
Uma pequena palavra “amor”, mas com um poder transformador. Capaz de trazer esperança onde antes era escuridão. Capaz de trazer bálsamo e alívio onde antes eram feridas expostas.
Amor que acolhe, amor que acalenta, amor que supre, amor que mostra que a vida pode e deve continuar, de outra forma, mas nem por isso pior.
Assim como aquele que recebeu os órgãos do filho que partiu, continuar enxergando pelo filho, indo e apreciando lugares que ele gostaria de ter ido, sentir o cheiro da terra molhada ou o perfume das flores por ele, saborear os prazeres da vida por ele.
Através daqueles que o amam, esse filho continuará vivo! Longe dos olhos, mas muito próximo do coração!
Dra. Sílvia Catin
OAB/SP 172.238
Pós-graduanda em Terapia Familiar – UNIFESP
Especialista em Terapia de Luto
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