quinta-feira, 24 de maio de 2012

Causos Caipiras

Causo é uma história caipira cujos personagens também são caipiras. 

Aí vai um causinho, si ocê fô caipira minero ocê vai intendê tudinho, si não fô, vai aprendê, essi é mais véio qui andá pá frenti, mais é bão: 

Sapassado, taveu na cuzinha tomando uma pincumel i cuzinhando um kidicarne com mastumate pá fazê uma macarronada cum galinha assada. Quascaí di susto, quando iscutei um baruio vindo di dendoforno, parecendo um tidiguerra. A receita mandopô midipipoca dentro da galinha p assá. O forno isquentô,  o mistorô  e a galinha ispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, proncovô, oncotô. Oiprocevê quilocura! Grazadeus ninguém simaxucô!Causinho bão dimais da conta, é lá das banda di Guaxupé, né.

Tem mais... Escrivinhação mais véia...
Asturdia tamém fiquei sabeno du caso dos etê di Varginha, purcausa disso Cumpadi Irineu as veis fica oiandu o céu percurando discu vuador, falei prele: “ paracum isso hómi, essi trem num inzisti  aqui na roça não”. Sabi o qui eli mi arrespondeu: “ ocê vá lambe sabão, sô! Si na Varginha tem purquê aqui num haveria de tê?, Adispois quem é qui miagarante qui ocê num é um etê disfarçadu di genti, óia só essazoreia grande, parece inté aza dilicópero”. 
Depois desse trelêlê tô aqui matutano será purquê os ET iscoieu logo Varginha  pá descê? Sei não viu? Esse causo tá mar contado, quem sabe a genti num conta direitinho mais pá frente, né! Incrusivel, vô  consurtá uns intendido nu assunto purcausdiquê já micontaro qui tem ET morano na Varginha inté hoje. Dia desses lá na pondusbueno um pescadô ando proseando cum quinté nomi tinha, é um tardi ETervino, “uma mistura di ET cum alivino”, foi o qui pensei. Cê micontaro, conto proceis! Cê num aquerditô, ô coitadu!
Êta caboclo miserável
Lá em São Joaquim da Barra (lá venho eu com minha terra de novo), tinha o Abílio Estori. Muitos inventaram causos da miserabilidade dele. Quando a gente fala em miserável, é aquele camarada que não rói a unha porque dói. É aquele que, de graça, não dá nem bom dia...etc. e tal.
Sobre o tal Abílio, chegaram a contar dele uma escabrosa. Imaginem os senhores que contam por lá que, um certo dia, o nosso personagem estava com dor de cabeça. Naquela época, era comum tomar o famoso Melhoral para qualquer dor.
Então, isso posto, conta-se que o Abílio, estando com dor de cabeça, teria amarrado na ponta de uma linha bem fina de costura um comprimido de Melhoral. E tomado o comprimido em seguida com um gole de água. Assim que a dor de cabeça passou, o Abílio teria puxado pra fora o Melhoral, para guardá-lo para outra ocasião. Outra dor. Era muito econômico o nosso querido Abílio.
           Outra atribuída a ele era nos tempos da bicicleta motorizada. Aquelas que tinham um motorzinho no cano central. Pois bem. Contam que ele descia a rua principal que era um pouco declinada, com o motorzinho ligado, fazendo aquele barulhinho característico de motor...brrr....brrrrrrr...De vez em quando (dizem), o Abílio desligava o tal motorzinho e substituía o seu barulho característico por um ruído igual, só que feito pelos lábios, pela boca... brrrrr... brrrrr...Era muito econômico o nosso Abílio.
Agora, pra encurtar nossos causos, aqui vai uma do saudoso Pedro Chediac, que dizem era muito miserável também. No bom sentido da nossa lembrança querida desse personagem histórico da minha terra.
Pois bem. Lá vem o sêo Pedro numa caminhonete na estrada. Ao ver um caboclo na bêra do caminho, como quem pede carona, este sêo Pedro toma a iniciativa de parar o veículo e oferecer (vejam só) a tal carona.
PEDRO – Pra onde o senhor está indo, amigo?
CABOCLO – Pra fazenda do Lageado, moço.
PEDRO – Entre aqui, que eu lhe levo até o seu destino.
CABOCLO – Obrigado, cidadão... Muito obrigado pela gentileza.
O caboclo subiu na caminhonete. Prosa vai, prosa vem, que lá na minha terra se gosta muito de prosear, o sêo Pedro de repente diz ao caboclo:
PEDRO – O senhor por acaso já me conhecia?
CABOCLO – Só de vista, moço.
PEDRO – Pois eu me apresento. Sou muito conhecido por essas bandas. Meu nome é Pedro Chediac.
O caboclo faz um ar de quem já ouviu falar do sêo Pedro Chediac.
PEDRO – Pois então. Veja o senhor que, na minha cidade, dizem que sou muito miseráve. Mas é intriga. Pois eu mesmo não lhe ofereci carona, agora mesmo? Intão. Eu não sou miseráve nada. Eu sou muito bom. Veja bem: sou uma pessoa tão dadivosa...portanto, não sou miseráve, que isso fosse verdade.... Eu quero que, por um castigo, uma jamanta dessas bem grandes e pesadas passe por cima de nóis dois, agora mesmo. Neste instante.
CABOCLO (no ato) – Ô moço! O sinhô qué fazê o favô de encostá a sua caminhonete... Eu quero apeá... Agora mesmo. Bem depressa!
por Rolando Boldrin



Zé City
Contadô de Causo

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