- Eu-quero-o-meu pai!
- Mas agora mesmo você queria a sua mãe...
- Mas eu quero o meu pai! Pa-apai!
- O seu pai tá ocupado agora...
- Não tá! - Ele foi buscar uma surpresa...
- É a minha bicleta rosa?
- Queísso, menina? Com quase quatro anos resolveu falar igual a um bebê? Bicleta?
- É bicicleta, né mãe? O meu pai foi buscar a minha bicicleta rosa?
- Eu falei que é surpresa. Não posso contar...
- Quando eu era bebê eu falava “biqueta”...
- E agora?
- Agora eu sou grande... Eu falo bicicleta. Cadê a minha bicicleta rosa?
- Olha! O seu pai tá chegando...
- Pa-apai! Você escreve um arco-íris pra mim?
- Desenho! - Não! Você escreve um arco-íris!
- Tá certo. Então traz os lápis... São sete cores.
- Pa-apai! Arco-íris não tem preto, não é mesmo?
- Isso mesmo. Arco íris tem outras cores, mas o preto é bonito também. Ele serve pra fazer o contorno de várias figuras.
- Com o quê, pai? Com o torno?
- Contorno, filha. É a linha que fica ao redor do desenho...
- Pode ser rosa?
- Acho que rosa não dá destaque...
- Oooo o quê?
- Me passa o lápis, filha... Podemos começar pelo azul.
- Pai! Agora eu quero uma árvore de Natal.
- Bem colorida?
- Eu quero “veurde”.
- Me dá o lápis verde...
- Tá sem ponta, pai... Aponta pra mim?
- O que vai ficar sem ponta é a nossa conversa...
- Pai! E a minha bicicleta rosa. Você vai trazer pra mim?
- Vou avisar pro Papai Noel...
- Mas ele não vem aqui em casa, pa-ai. Não tem jeito porque a nossa casa não tem chaminé...
- Ele passa pela porta mesmo. Pode ficar tranquila.
- Mas ele vai pisar na Maria Joaquina.
- Ela é só uma tartaruga de cimento, filha. Fica calma. Ele olha onde pisa. Agora, vamos acabar o arco-íris.
- Mas, pai! É uma árvore de Natal que eu quero.
- Não era um arco-íris?
- Pa-apai. Pode deixar. Agora eu quero desen...
- Cê tá é com sono. Vamos dormir?
- Posso sonhar com a minha bicicleta cor de rosa?
- Pode, filha! Sonha que o Papai Noel traz uma pra você...
Beto Chagas é escritor e psicólogo,
autor do livro de crônicas Palavras Contidas
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